
A saúde mental exige uma atenção especial de todos. Principalmente em uma área como a aviação, esse tema necessita de uma abordagem séria, promovendo um debate transparente tanto por parte dos profissionais quanto das companhias. Afinal, estamos falando de vidas que precisam ser preservadas.
Em 24 de março de 2015, um acidente aéreo chocou o mundo. Na ocasião, um Airbus A320, da companhia aérea alemã Germanwings, caiu nos Alpes Franceses, no sudeste do país. Com destino a Dusseldorf, na Alemanha, o voo havia partido de Barcelona, na Espanha.
Pois o que parecia ser mais uma notícia trágica envolvendo um acidente com uma aeronave, no entanto, carregava uma outra história: o copiloto tinha provocado deliberadamente a queda.
As investigações atestaram que Andreas Lubitz, de 27 anos, havia procurado na internet informações sobre \”formas de cometer suicídio\”, especialmente entre 16 e 23 de março – véspera do acidente. A constatação foi obtida por intermédio de um tablet do copiloto, apreendido em uma de suas residências.
Mas não foi só isso: a pesquisa também envolveu portas da cabine da qual os pilotos comandam a aeronave e dispositivos de segurança. Segundo a investigação, Lubitz ficou sozinho na cabine, conseguindo bloquear a entrada do piloto. Para chegar à conclusão, a equipe de investigação utilizou até mesmo a análise dos sons da cabine registrados na primeira caixa preta.
O passado relativamente recente de Andreas Lubitz, descoberto pelas investigações na Alemanha, completaram o triste roteiro. Em 2009, o copiloto sofreu um \”episódio depressivo grave\” e recebeu tratamento para \”tendências suicidas\”. Seis anos depois, veio a tragédia.
Saúde mental e os cuidados necessários
O caso de Lubitz ganhou as manchetes, chamando a atenção para a necessidade de uma atenção especial para a saúde mental dos profissionais da área. Dessa forma, a preocupação é para que situações como essa não voltem a acontecer. E mais: o alerta serve também para proteger os profissionais, preservando a todos.
Dessa forma, torna-se necessário o desenvolvimento de políticas eficientes, com avaliações técnicas regulares e o suporte apropriado quando necessário. Mas será que isso realmente ocorre atualmente ou existem deficiências nos testes feitos com as tripulações?
Em artigo recente publicado no jornal norte-americano Washington Post, o registro causa preocupação. Afinal, o texto demonstra que muitos pilotos omitem dados a respeito de sua saúde mental para continuarem a voar.
Além da clara incapacidade dos testes e treinamento aplicados para a renovação das licenças de piloto, a desatualização do regulamento aéreo em alguns países também se soma na configuração de um problema que não consegue ser detectado em meio ao tráfego do que se convencionou chamar de \”o transporte mais seguro do mundo\”.
Números e cuidados
Vale lembrar que a saúde mental é assunto sério e, portanto, está no alvo das principais instituições do globo. Afinal, o problema pode atingir trabalhador de qualquer atividade profissional, não apenas pilotos e tripulação. Até por isso o assunto tem merecido diversas campanhas de conscientização.
Segundo dados do relatório \”Diretrizes sobre Saúde Mental no Trabalho, publicado em setembro de 2022 pela Organização Mundial de Saúde (OMS), estima-se que 12 bilhões de dias de trabalho são perdidos todos os anos por causa da depressão e da ansiedade. Isso custa quase US$ 1 trilhão de prejuízo à economia mundial.
Também de acordo com a OMS, mas a partir de informações divulgadas em 2020, são 322 milhões de pessoas com depressão em toda a população mundial – 18% a mais do que há dez anos. Não bastasse isso, a depressão é a doença que mais contribui diante da incapacidade no mundo, ainda de acordo com a entidade. Ela também é a principal causa de mortes por suicídio.
Certamente, a pandemia demonstrou a importância também do cuidado com a saúde mental dos profissionais. Por tudo isso, é necessário que as empresas aéreas possam aprimorar as avaliações dos pilotos e da tripulação, assim como oferecer ferramentas para dar a assistência necessária para os profissionais.
Um funcionário doente ocasiona problemas financeiros e sobrecarrega quem está em plenas condições, podendo originar novos casos. Em termos mundiais, é necessário o aprimoramento das regulamentações aéreas, o que passa diretamente pela importância do cuidado com a saúde mental.
O assunto está em alta. E os números também: 33% dos colaboradores avaliados apresentam algum tipo de transtorno mental em nível extremamente em nível severo, segundo o estudo \”Um olhar aprofundado sobre a saúde mental nas organizações brasileiras\”, realizado neste ano pela Vitttude, empresa que oferece atendimento de profissionais da área.
Esses dados deixam claro a necessidade do cuidado com a saúde mental. Portanto, preservar a vida é um trabalho que exige união entre as companhias e os profissionais.
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