Planejamento, respeito à capacidade da natureza e atitudes sustentáveis
são a base do manejo florestal sustentável
Foto: Adobe Stock
Você sabe o que é manejo florestal sustentável? O Brasil possui 58,5% do seu território ocupado por florestas, de acordo com o Sistema Nacional de Informações Florestais. Isso equivale a 497.962.509 hectares. Desse total, 98% são de florestas naturais e 2% de florestas plantadas.
Com tamanha relevância desta área para o planeta, é preciso buscar formas eficazes para manter o correto equilíbrio entre a questão ambiental e o desenvolvimento. Isso significa encontrar caminhos para garantir a preservação e, ao mesmo tempo, atuar para que essa região consiga trazer benefícios, principalmente, para as populações locais.
É nesse contexto que surge a prática de manejo florestal sustentável, definida pelo inciso VI do artigo 3.º da Lei n.º 11.284/2006 como a “administração da floresta para a obtenção de benefícios econômicos, sociais e ambientais, respeitando-se os mecanismos de sustentação do ecossistema objeto do manejo e considerando-se, cumulativa ou alternativamente, a utilização de múltiplas espécies madeireiras, de múltiplos produtos e subprodutos não madeireiros, bem como a utilização de outros bens e serviços de natureza florestal”.
Especializada no assunto, a advogada do Escritório Pinheiro & Mendes, Natascha Schmitt explica que o manejo florestal sustentável é crucial, porque promove uma administração responsável das florestas, garantindo que elas continuem a oferecer benefícios econômicos, sociais e ambientais.
“No Brasil, que possui 58,5% do seu território coberto por florestas, essa prática é essencial para preservar a biodiversidade e os recursos naturais. A sustentabilidade nesse contexto não apenas protege os ecossistemas, mas também apoia as comunidades locais, fornecendo-lhes meios de subsistência e oportunidades econômicas. Além disso, o manejo sustentável ajuda a mitigar as mudanças climáticas, mantendo as florestas como sumidouros de carbono. Isso ocorre porque as práticas de manejo reduzem o desmatamento e a degradação florestal, permitindo que as florestas absorvam e armazenem CO2 de forma eficaz. A utilização de múltiplas espécies e produtos florestais também diversifica a economia local e incentiva a inovação”, destaca.
Características do manejo florestal sustentável
Planejamento, respeito à capacidade da natureza e atitudes sustentáveis são a base do manejo florestal sustentável. Isso significa encontrar caminhos para conseguir explorar corretamente os biomas, com um impacto ambiental significativamente reduzido.
A partir da reprodução de ciclos naturais, o objetivo é manter os ecossistemas florestais conservados, com toda a sua biodiversidade e seus recursos, obedecendo aos seus limites de produção e regeneração.
Dessa forma, preservar a floresta gera recursos para as comunidades, combatendo, assim, o desmatamento.
Para simplificar, podemos fazer uma analogia entre o manejo florestal sustentável e a administração de uma conta bancária. Quando se trata de finanças, é essencial ter uma gestão responsável, buscando sempre o equilíbrio entre o uso dos recursos e a conservação para o futuro. Assim é no manejo sustentável, confira:
Investir: assim como investimentos são feitos como forma de poupar e possuir renda extra olhando para o futuro, no manejo florestal sustentável os investimentos são para a saúde do meio, cuidando do que já existe, conservando e plantando para depois.
Controlar: acompanhar as finanças para que nunca se gaste mais do que se tem. Nas florestas, isso é traduzido em colher a matéria-prima com responsabilidade, para garantir que o meio tenha tempo de se recuperar e se mantenha produtivo.
Diversificar: para minimizar riscos de perdas financeiras, a dica é diversificar os investimentos. Nos biomas, ser saudável significa ser diverso, com espécies variadas, criando equilíbrio no ecossistema.
Olhar para o futuro: o que, no mundo financeiro, chamamos de planejamento a longo prazo, quando se fala em manejo florestal sustentável, o olhar é para o futuro, para garantir que as próximas gerações também tenham acesso aos recursos naturais.
Ao trabalhar corretamente essa prática, é possível conservar a biodiversidade do local, atenuar as mudanças climáticas e apoiar o desenvolvimento econômico das comunidades dependentes das florestas.
Benefícios do manejo florestal sustentável
Entre os benefícios, o manejo florestal sustentável causa um impacto positivo de forma inovadora em diferentes frentes. “Em termos econômicos, ele permite a exploração sustentável de múltiplas espécies e produtos não madeireiros, como frutos, óleos essenciais e plantas medicinais, diversificando as fontes de renda das comunidades locais e criando novas oportunidades de mercado”, diz Natascha.
Como exemplo, a advogada do Escritório Pinheiro & Mendes destaca o Projeto Florestal Chesapeake, nos Estados Unidos, que demonstrou que é possível gerar receita significativa através da colheita sustentável de madeira, ao mesmo tempo em que se protege grandes áreas de floresta. “A parceria público-privada (PPP) estabelecida nesse projeto permitiu que o estado de Maryland adquirisse e gerenciasse mais de 23.000 hectares de floresta, gerando empregos e evitando a conversão de terras florestais para outros usos”.
De acordo com a especialista, o manejo florestal sustentável também gera benefícios ambientais, reduzindo a degradação e o desmatamento, conservando a biodiversidade e protegendo recursos hídricos vitais. “Florestas manejadas de forma sustentável atuam como sumidouros de carbono, absorvendo CO2 e mitigando os impactos das mudanças climáticas”.
No âmbito social, a prática envolve a participação ativa das comunidades locais na tomada de decisões, fortalecendo a governança e preservando conhecimentos tradicionais. “Isso empodera as comunidades e garante que as práticas de manejo sejam culturalmente apropriadas e sustentáveis a longo prazo. A inclusão das comunidades locais na gestão das florestas garante a continuidade das atividades econômicas locais, especialmente a colheita de madeira, proporcionando estabilidade econômica e social”.
Por sua vez, Natascha destaca que o manejo florestal sustentável em áreas públicas através de PPPs – projetos esses já em implementação no Brasil – demonstra que é possível alavancar recursos privados para a conservação e gestão sustentável das florestas, aliviando as limitações financeiras e de pessoal do setor público. “Essas parcerias permitem uma gestão eficiente e transparente, com monitoramento rigoroso para garantir que os padrões ambientais sejam mantidos”.
Como se aplica essa prática?
Antes que uma floresta possa ser usada para manejo sustentável no regime de concessão florestal, órgãos ambientais estudam o meio para avaliar quais partes daquela área devem ser reservadas para preservação ou uso da comunidade.
Esse é o passo de criação do plano de manejo sustentável, que inclui um diagnóstico completo sobre o meio físico, biológico e social. O documento estabelece as regras e as restrições para o uso do meio, quais ações devem ser desenvolvidas e como deve ser o manejo dos recursos naturais.
Com o plano aprovado, o processo de manejo sustentável segue praticamente a mesma dinâmica da natureza – a queda de árvores que ocorre normalmente nas florestas, assegurando a saúde e manutenção do bioma natural. A partir do planejamento, são autorizadas a retirada de árvores mais crescidas e a madeira sustentável pode, assim, ser usada para outros fins.
De forma legal, para uma organização que deseja explorar uma floresta nativa, deve ser criado um plano de manejo aprovado pelos órgãos ambientais competentes, de acordo com as diretrizes de sustentabilidade ambiental, econômica e social
Para atuar corretamente com o manejo florestal sustentável, Natascha explica que é essencial adotar um planejamento participativo que envolva todas as partes interessadas, incluindo as comunidades locais, cientistas e gestores ambientais.
“O desenvolvimento de um plano de manejo detalhado deve incluir uma análise completa dos serviços ecossistêmicos fornecidos pela floresta e a identificação das áreas que devem ser preservadas e aquelas que podem ser utilizadas de forma sustentável. A implementação deve seguir técnicas que respeitem os processos naturais da floresta, como a colheita seletiva de árvores maduras, permitindo a regeneração natural e mantendo a estrutura e função do ecossistema. Tecnologias avançadas, como sensoriamento remoto e drones, podem ser utilizadas para monitorar a saúde da floresta em tempo real, permitindo ajustes rápidos nas práticas de manejo. A valorização e exploração sustentável de produtos não madeireiros, como frutos e óleos essenciais, diversifica as fontes de renda e reduz a pressão sobre a madeira”, finaliza.
Manter a floresta viva
Acima de qualquer outro ponto, manter a floresta viva é o principal objetivo do manejo florestal sustentável. De forma menos invasiva e com menos destruição, a prática permite o mínimo de impacto ambiental.
O manejo sustentável garante ganhos ambientais, sociais e também econômicos, movimentando a economia local. E vai além. Cuida da cultura e das tradições locais, pois preserva o conhecimento e técnicas da população para lidar com os recursos disponíveis.
Para saber mais sobre o tema, acompanhe esta e outras informações nas redes sociais do Escritório Pinheiro & Mendes: Instagram e LinkedIn.
Conteúdo produzido por Lab Persona Estadão