A saúde suplementar representa um valioso benefício para os brasileiros e, ao mesmo tempo, um grande desafio para os gestores. Afinal, inúmeros fatores interferem diariamente nos custos.
O dilema envolve identificar caminhos para prover um serviço qualificado e eficiente e, ao mesmo temo, viável. Para isso, o primeiro passo é avaliar os motivos que causam o desequilíbrio nas contas, buscando na sequência soluções apropriadas para conseguir “fechar a conta” no fim de cada mês. E tudo isso em um mercado dinâmico, com mudanças frequentes.
Em constante crescimento, o setor de saúde suplementar brasileiro alcançou um total de 50,7 milhões de beneficiários em agosto de 2023. O resultado foi impulsionado principalmente pelos planos coletivos empresariais. Isso porque os números de usuários de planos individuais ou familiares e planos coletivos por adesão registraram queda durante o período.
Apesar dos resultados positivos no número de beneficiários e, consequentemente, o aumento da arrecadação, os custos da saúde no país também aumentaram.
Dados da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) comprovam que a sinistralidade nos planos de saúde segue em um patamar elevado, mesmo no terceiro ano após o início da pandemia.
Em média, 88% das receitas provenientes das mensalidades no primeiro semestre de 2023 foram destinados às despesas assistenciais. Esse cenário, portanto, demonstra a complexidade do sistema de saúde suplementar no país.
Projeções de custos para a saúde suplementar
Na saúde suplementar, todas as projeções de custos futuros indicam um aumento constante dos gastos. Esse sinal de alerta ameaça a sustentabilidade do sistema e, consequentemente, exige a adoção de determinadas ações para evitar o colapso.
Nos últimos anos, os fatores que contribuíram para o aumento das despesas com saúde têm sido amplamente debatidos no setor. Entre os temas, inflação médica (VCMH), aumento da utilização dos serviços, valores dos procedimentos e despesas com medicamentos de alto custo.
Em uma análise de 2000 a 2023, é possível notar um crescimento significativo no número de beneficiários dos planos de assistência médico-hospitalar. Nesse período, os números subiram de 31 milhões para quase 51 milhões de usuários do sistema.
Perfil do usuário da saúde suplementar
Considerando que os planos gerenciam o cuidado em saúde, rapidamente surge uma pergunta. Afinal, quais são as características dessa população que atualmente recorre ao sistema de saúde suplementar?
Desde os anos 2000, pesquisadores brasileiros já alertavam para o processo em curso de transição demográfica no país, caracterizado por um aumento progressivo da população idosa. As projeções para 2020 indicavam a presença de 32 milhões de idosos no Brasil.
Com base no último censo, constata-se que essa estimativa foi alcançada. De acordo com os dados, a parcela da população idosa com 60 anos ou mais representando 15,6% da população brasileira.
Paralelamente, a redução da taxa de fecundidade contribuiu para a formação deste cenário, resultando em uma diminuição no crescimento populacional e, consequentemente, na redução do número de jovens.
Mas o que isso realmente significa? Esse fenômeno impacta diretamente um dos principais fundamentos da saúde suplementar, o mutualismo.
Relatório Panorama da Saúde Suplementar da ANS evidencia uma transformação significativa no perfil etário dos beneficiários. Entre 2000 e 2023, a proporção de usuários com mais de 65 anos aumentou consideravelmente, passando de 14,5% para 20,7%.
Por outro lado, ao consideramos a regulamentação da ANS para a precificação dos planos, notamos que a população com mais de 59 anos em 2023 compõe 28,8% das carteiras dos planos de saúde.
Doenças crônicas na equação da saúde suplementar
É importante ressaltar que a idade é um dos fatores de risco não negociáveis para a saúde. As doenças crônicas não transmissíveis e multicomorbidades adquirem maior relevância com a transição demográfica e o envelhecimento populacional. Neste contexto, a presença de várias doenças contribui para um aumento na curva de incapacidade dos indivíduos.
O envelhecimento da população converge com o aumento da prevalência de hipertensão arterial, diabetes tipo 2 e câncer, por exemplo.
Mas o que isso significa para a conta? O setor de saúde suplementar utiliza como base inicial do cálculo de precificação dos planos de saúde os gastos per capita por faixa etária. Antes, o impacto do envelhecimento sobre as despesas era sustentável devido ao bônus demográfico existente.
Como a saúde é uma questão de cuidado ao longo da vida, aqui já é possível chegar a uma importante constatação. Juntamente com os desafios associados a nova realidade no Brasil, o envelhecimento da população deve direcionar esforços do setor para melhorar a qualidade de vida dos idosos, que atualmente vivem 10 a 20 anos a mais.
Obesidade interfere na conta
Além do envelhecimento da população, outro tema de destaque nos estudos científicos realizados no Brasil nos últimos anos é a obesidade, considerada um dos problemas de saúde pública mais graves no mundo.
De acordo com dados do Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional (SISVAN) do Ministério da Saúde, essa doença crônica afeta atualmente 33,4% da população adulta brasileira.
Em 2008 foi a primeira vez que o relatório foi publicado. Ao examinar a série histórica sobre o estado nutricional dos indivíduos, nota-se no primeiro ano de publicação que apenas 14,5% da população adulta brasileira apresentava essa condição médica.
Considerada pela Organização Mundial de Saúde (OMS) uma das principais epidemias de saúde do mundo, a obesidade é um fator de risco significativo para doenças cardiovasculares, diabetes do tipo 2, doenças respiratórias como apneia do sono, bem como várias formas de câncer.
Portanto, para fornecer uma análise abrangente da estimativa de custos no setor de saúde suplementar, o ponto de partida é a compreensão da evolução histórica dos usuários do sistema que está intrinsecamente vinculada às transições demográficas e epidemiológicas desta população.
Caminhos para seguir
Após uma análise abrangente das causas, chegamos ao dilema sobre a saúde suplementar brasileira: como promover uma assistência médica de melhor qualidade, satisfatória para os usuários e com custos mais acessíveis?
No primeiro contato com o sistema de saúde, é fundamental oferecer aos usuários uma alta eficiência e capacidade de resolução. Isso significa buscar o melhor desfecho clínico para o caso por meio de produtos e serviços adequados.
Ao contrário do que se observa na maioria dos mercados, no setor de saúde os avanços tecnológicos podem resultar no aumento dos gastos relacionados à promoção do tratamento de doenças anteriormente consideradas incuráveis, ao diagnóstico e tratamento de comorbidades que antes não eram assistidas.
Certamente, os gestores das operadoras de saúde questionam que a crise exige estratégias para enfrentar as implicações do envelhecimento da população, o surgimento de medicamentos cada vez mais caros e a adoção de terapias e tecnologias para doenças raras. Nesse ponto, lembre-se que a saúde é um projeto de longo prazo.
Dessa forma, é preciso avaliar se precisamos resistir à introdução de novos medicamentos e terapias ou, em vez disso, avaliar sua eficácia com base em dados do mundo real.
Consequentemente, devemos considerar se a abordagem substitutiva é a mais apropriada para o desfecho clínico do paciente. Além disso, explorar a possibilidade de implementar programas de promoção da saúde para reduzir os efeitos da obesidade é crucial.
Em um cenário repleto de variáveis que mudam frequentemente, como encontrar as soluções para esse desafio? Com o auxílio da tecnologia, essas questões podem ser respondidas a partir da análise dos dados.
Para funcionar, porém, é essencial contar com prontuários únicos, digitais e compartilhados para cada beneficiário, respeitando as diretrizes da Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), a fim de possibilitar uma visão 360° e integrada dos pacientes.
Desenvolvida pela Aliz Health, a solução Cuidado Direcionado tem como meta aprimorar a estratificação de risco de doenças. Para isso, visa à identificação de grupos de cuidado para programas de prevenção à saúde, promovendo de forma eficiente o engajamento e bem-estar dos pacientes.
Nesse contexto, vale ainda conhecer a ferramenta de copiloto para o tratamento, projetada para apoiar os profissionais de saúde em suas decisões com o monitoramento acompanhamento contínuo da jornada do paciente, viabilizando um modelo de assistência mais eficiente, eficaz e sustentável.