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Covid-19: 56% das mortes hospitalares no Brasil poderiam ter sido evitadas

Estadão Blue Studio Express
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6 de dezembro de 2021
Foto: ismel leal | Adobe Stock

No Brasil, 56,55% dos óbitos ocorridos em hospitais por causa da covid-19 poderiam ter sido evitados. Para isso, o sistema de saúde nacional precisaria apresentar uma padronização, conquistando os mesmos resultados registrados em Belo Horizonte, em Minas Gerais. É o que comprova estudo desenvolvido pelo Imperial College, universidade de classe mundial em Londres.

Realizada em 14 capitais brasileiras, a avaliação fez uma análise minuciosa dos dados apurados desde o início da pandemia até 26 de julho de 2021. De acordo com o estudo, portanto, aproximadamente 328.294 brasileiros estariam hoje compartilhando a vida com seus familiares e amigos.

Apesar de alarmantes, os dados contribuem para o aprimoramento do sistema de saúde brasileiro. Com os melhores resultados apresentados, a capital mineira se torna referência. Nesse contexto, porém, será que podemos atribuir este achado à qualidade e à suficiência da rede do município?

“No mundo moderno, as pessoas morrem no hospital. Entretanto, uma taxa de mortalidade baixa é determinada não só pela qualidade da instituição hospitalar, mas também pela qualidade de todo o sistema de saúde que antecede a internação”, explica o médico Renato Couto, presidente do Grupo IAG Saúde e cofundador da plataforma Valor Saúde Brasil by DRG Brasil.

Dessa forma, é possível afirmar que uma rede hospitalar com baixa mortalidade significa todo um sistema de saúde com alta qualidade. Entre os principais pilares para a conquista desse objetivo estão: a atenção primária, o sistema de emergência e o transporte sanitário, bem como o cuidado domiciliar e o especializado.

Números

Seguindo essas informações como base, é preciso agora analisar os detalhes para entender como Belo Horizonte conseguiu construir o sistema de saúde de melhor qualidade no Brasil. Por conta de um trabalho conjunto realizado há anos, a capital mineira se tornou referência tanto no atendimento realizado através do Sistema Único de Saúde (SUS) quanto na saúde suplementar.

Os números registrados pela cidade demonstram isso. Do total de internações do SUS realizadas em Belo Horizonte, 49% em média são provenientes de outras cidades. Já para a saúde suplementar, este número é de 15%.

Esses dados dão indícios da relevância do trabalho de base desenvolvido com os moradores da cidade. “Centros de alto volume assistencial apresentam melhores resultados. É exatamente isso o que acontece em Belo Horizonte”, destaca Couto.

Outro ponto importante que contribui no entendimento dos resultados apurados pelo estudo do Imperial College é a abrangência da saúde suplementar. De acordo com dados de 2021 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a população estimada de Belo Horizonte é de 2.530.701 pessoas. Por sua vez, balanço de setembro deste ano da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) demonstra que 1.237.268 belo-horizontinos possuem cobertura de assistência médica pela saúde suplementar. Isso significa que aproximadamente 49% da população de BH têm acesso a esse sistema.

Ao analisarmos os números nacionais no mesmo período, porém, essa porcentagem cai para cerca de 23%. Portanto, Belo Horizonte tem proporcionalmente mais que o dobro de cidadãos cobertos pela saúde suplementar, na comparação com o Brasil.

“Os recursos privados da saúde suplementar proveem recursos para a população que só tem acesso ao SUS. Ou seja, o cidadão do SUS de BH tem mais que o dobro de recurso privado disponível que a média nacional. Belo Horizonte é a quarta economia brasileira, mas representa apenas 12% da economia nacional e 79% da renda per capita de São Paulo”, explica o especialista em VBHC e cofundador do Valor Saúde Brasil.

Análise

Couto atribui a grande participação da saúde suplementar na cidade a dois fatores: preço e qualidade. Segundo ele, 52% dos usuários possuem algum plano da Unimed-BH, cooperativa que há 10 anos é considerada a melhor operadora brasileira.

“A diretriz de qualidade e centralidade dos resultados para o cidadão belo-horizontino foi incorporada ao mecanismo de ‘estado’ pelo então prefeito Célio de Castro, em 1997, e pela Unimed-BH, desde o início dos anos 2000”.

Por conta disso, ainda que ocorram mudanças na presidência da Unimed-BH, a diretriz de qualidade e centralidade dos resultados não altera. Para exemplificar isso, podemos mencionar a forma de remuneração diferenciada adotada pela operadora desde os anos 2000.

Por meio dessa metodologia, os hospitais que conseguem o nível de excelência da Organização Nacional de Acreditação (ONA) – maior programa de acreditação hospitalar brasileiro – recebem até 15% a mais. Como consequência, toda a rede hospitalar contratada pela Unimed-BH é acreditada pela metodologia ONA, assim como pode ser certificada na norma de gestão de qualidade ABNT NBR ISO 9001.

“Esse movimento inclui hospitais filantrópicos – que atendem o SUS e a saúde suplementar – e abarca, progressivamente, hospitais que atendem exclusivamente a saúde pública. Assim, o setor saúde de BH respira qualidade há pelo menos duas décadas”, afirma Renato Couto.

Outros destaques

Além do incentivo para as práticas de acreditação hospitalar, a Unimed-BH bonifica também o alcance de resultados assistenciais, tendo como foco a entrega de valor em saúde (Value-Based Health Care). Aqui, os alicerces são: qualidade/segurança, eficiência e experiência do cliente.

O incentivo financeiro por parte da operadora para sua rede prestadora hospitalar varia de 1,8% a 3% da receita bruta anual. O valor depende dos resultados alcançados após auditoria externa independente.

Por sua vez, a prefeitura da capital mineira mantém um programa de bônus para a rede hospitalar que atende o SUS. Os incentivos variam de acordo com o nível de segurança assistencial verificado por auditoria externa e independente. Em linhas gerais, quanto maior o nível de segurança oferecido, melhores são os recursos.

Essas ações adotadas no sistema de saúde da cidade, portanto, equivalem a milhões de reais investidos diretamente em melhoria de qualidade da rede hospitalar ano após ano.

Enfrentamento da pandemia

Esse trabalho focado na entrega de valor em saúde desenvolvido há anos na cidade, utilizando a análise de dados para a definição das melhores práticas, também refletiu no enfrentamento à covid-19.

No comando das ações, a secretaria municipal estabeleceu uma sólida cooperação para combater a covid-19, utilizando a ciência como base, evitando assim a adoção de medidas ineficientes. Nesse processo, o órgão envolveu os diversos atores da saúde do município, como: gestores do SUS, saúde suplementar, técnicos e pesquisadores das Universidades e demais organizações da sociedade civil.

Com isso, a gestão contou com uma robusta assessoria de especialistas, assim como com o suporte da literatura disponibilizada continuamente pela academia.

“O atual prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil, dedicou toda a sua liderança e autoridade na implantação das ações do comitê municipal de enfrentamento da pandemia. A política foi o amálgama da confluência das diversas partes da sociedade na realização das diretrizes técnicas para enfrentar a pandemia. Isso trouxe como um dos resultados a não ocorrência de dissensos observados em outros municípios brasileiros”.

De acordo com Renato Couto, o trabalho exigiu também a capacitação de profissionais, assim como o fornecimento de estrutura a todos os níveis de atenção para um problema até então desconhecido, demandando uma escala de recursos jamais utilizados. Além disso, foi necessário gerenciar de maneira adequada toda esta nova operação assistencial e de prevenção.

“Os recursos aportados ao SUS de BH foram da ordem de R$ 724,46 milhões neste período da pandemia da covid-19. O estado disponibilizou seu laboratório de biologia molecular na Fundação Ezequiel Dias. Já a rede estadual de hospitais públicos, Fhemig (Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais), esteve sempre alinhada ao comando da autoridade sanitária do município de BH”.

Diferencial

Na estratégia de expansão hospitalar, os leitos de campanha tiveram participação irrelevante na cidade. Isso porque toda a expansão de leitos da cidade ocorreu dentro dos hospitais existentes, estimulados a ativar áreas desocupadas.

Com isso, a ampliação ocorreu em bases sólidas e maduras de processos assistenciais existentes – a maioria acreditada pela ONA. “O hospital é uma organização complexa e demora cerca de uma década para atingir a maturidade de seus processos, especialmente, aqueles relacionados a pacientes críticos”.

Responsável por mais da metade dos cidadãos do município, a Unimed BH enfrentou a pandemia de forma integrada ao SUS.

Logo em março de 2020, a operadora disponibilizou gratuitamente à saúde pública o seu sistema de teleconsultas. Até o momento, cerca de 532 mil atendimentos foram realizados através da ferramenta, seguidos de telemonitoramento domiciliar com médicos e robôs com a realização de cerca de 874 mil acompanhamentos.

Além disso, a cooperativa médica acrescentou 350 novos leitos hospitalares à rede verticalizada e na emergencial, contratando mais 650 profissionais de saúde. A estratégia exigiu também a criação de um plano de antecipação de honorários médicos e de produção hospitalar, baseado em 70% do valor histórico de pagamentos, para enfrentamento dos momentos de ociosidade da rede.

Profissionais de saúde

Fundamentais no combate ao coronavírus, os profissionais de saúde se viram sobrecarregados em todo o País. Por conta disso, a Unimed-BH desenvolveu uma estratégia para preservar os trabalhadores. Entre as ações, elevou os valores pagos pela produção médica e criou licença remunerada aos cooperados infectados pela covid-19.

Ainda como parte das ações de combate ao coronavírus, entregou 40 toneladas de cestas básicas e produtos de higiene e limpeza para comunidades em vulnerabilidade social da Região Metropolitana a partir de doação dos médicos da cooperativa.

Para garantir o abastecimento do município, provisionou insumos com importação direta, cedendo medicamentos para hospitais da rede credenciada e da rede pública.

Já na campanha de vacinação da população, a Unimed-BH cedeu 200 profissionais ao SUS para realizar a vacinação nas Instituições de Longa Permanência para Idosos (ILPIs) da capital mineira.

Por fim, formou um comitê epidemiológico com a participação de membros da Secretaria Municipal de Saúde, da Universidade Federal de Minas Gerais e da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, e proporcionou o compartilhamento e a análise dos dados da epidemia, alinhando e integrando esforços com o SUS.

Reconhecimento

A união de forças de todos os agentes de saúde da cidade conseguiu gerar resultados e, com isso, conquistou o reconhecimento antes mesmo da divulgação do estudo da Imperial College.

A Prefeitura de BH conquistou, em 2021, o 1º lugar na premiação internacional “Gestão para resultados no desenvolvimento”, uma realização do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). Concorrendo com iniciativas de vários países da América Latina e Caribe, a experiência municipal com a implantação da metodologia DRG na rede hospitalar foi reconhecida como a melhor na categoria Planejamento Estratégico de Municípios.

O projeto surgiu da necessidade de acentuar a segurança do paciente por meio da qualidade assistencial, enfrentando a escassez de recursos com a redução do desperdício do sistema de saúde.

Já a Unimed-BH foi convidada a integrar e relatar o sucesso do enfrentamento da pandemia no “The Great Reset” (O Grande Recomeço, na tradução livre), uma iniciativa inédita idealizada pelo Fórum Econômico Mundial.

No Brasil

Apesar das diferenças de resultados apresentados nos estados brasileiros, Renato Couto destaca a relevância do sistema de saúde brasileiro, idealizado a partir da Constituição de 1988. Atualmente, mais de 74% dos brasileiros receberam pelo menos uma dose da vacina contra a covid-19 e mais de 62% encontram-se completamente vacinados”.

Mesmo tendo começado um pouco depois dos países de alta renda, já superamos a larga maioria. Fomos salvos por um sistema de saúde que nos orgulha de sermos brasileiros”.

Para o médico, o que anima é que podemos entregar mais com o mesmo recurso. “Mas, para isso, precisamos de uma diretriz centrada na entrega de valor em saúde ao brasileiro, baseada na ciência e aplicada ao longo de décadas, independentemente de governo, mas como um mecanismo perene do estado brasileiro como estabelecido na Constituição”.

Para colocar em prática a saúde baseada em valor, as instituições precisam analisar seus custos e monitorar indicadores assistenciais. A única forma de integrar todo o volume de dados de saúde e econômicos, e transformá-los em ações para alcançar resultados significativos, é contar com o apoio da tecnologia. Um bom exemplo deste recurso é o Valor Saúde Brasil, uma inovadora plataforma de governança clínica. Em linhas gerais, a ferramenta fornece as condições necessárias para simplificar e acelerar a mudança do modelo assistencial e remuneratório em direção a formatos baseados em valor com foco na qualidade do cuidado.

Médicos, hospitais, operadoras da saúde suplementar e do SUS, pacientes e suas famílias são beneficiados pela soma de melhores resultados assistenciais, maior eficiência e controle do desperdício. Para mais informações, acesse o site www.drgbrasil.com.br.

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